Não sou só eu que tenho esta sensação...
Parece que o tempo encurtou e que isto está a acontecer cada vez mais, pois temos tanto o que fazer e só vivemos a correr! Numa velocidade muito maior do que o nosso equilíbrio emocional suporta, ultrapassando os avisos que nos assinalam a ultrapassagem dos limites suportáveis do organismo, vencendo recordes, muitas vezes cansados, vivendo momentos sem viver, respirando mal e muitas vezes sem compreender bem para onde vamos e o que desejamos para as nossas vidas.
E assim, os dias vão indo, e nós com eles, e, como na correria nos desligamos do nosso espírito, empobrecemos a nossa alma, que, sem estar a ser alimentada, entristece, definha. Daí vermos com assombro, à nossa volta, tantas pessoas desanimadas, desmotivadas, sem brilho no olhar, sem amor pela vida. Tudo porque estamos a correr além do nosso fôlego, da nossa capacidade de processar o que nos acontece. As emoções vão se amontoando dentro de nós, como roupas atiradas sem cuidado para dentro de uma gaveta, peças sujas misturadas com limpas, velhas com novas, usáveis com aquelas que já poderíamos e deveríamos ter passado adiante...
Uma confusão muito grande, uma trapalhada tremenda... e não há tempo para a arrumação, pois temos sempre muito que fazer, coisas que “não podem esperar”. E lá vamos nós, andando mal, esbarrando nos outros, pisando em muitos, magoando-nos a nós mesmos. Para quê?
Para onde vamos?
Onde vai tudo isto dar? Como vamos estar no fim desta maratona toda? Será que felizes pela vida vivida, pelas relações que conseguimos cultivar, ou será que esvaziados, envelhecidos, desgastados e vencidos?
Contrastando com este cenário criado por nós, seres humanos, em volta, a Natureza ainda se preserva ritmada e procurando manter o seu equilíbrio.
O sol nasce, todos os dias; no fim do dia despede-se e permite que a noite nos propicie um cenário mais tranquilo, para que possamos dormir, relaxar, descansar. Será que nos permitimos acompanhar este ritmo, ou continuamos a trabalhar, a movimentar-nos, neste vai-e-vem descontrolado e pernicioso que acaba por nos fazer adoecer e que vai contaminando o planeta inteiro, mudando o clima, dificultando a produção de alimentos, gerando cataclismos gigantescos onde uma quantidade incontável de pessoas desparece de uma só vez, deixando em volta muita tristeza, desolação e saudade?
Talvez tudo comece em cada um de nós...
Se queremos contribuir para uma cura contra esta corrida contra o eterno Tempo, precisamos de nos harmonizar. O problema não está na China, nem no Polo Norte, ou em qualquer outro local dos pontos cardeais... está muito próximo, nas nossas almas e muito podemos fazer para melhorar tudo isto, se cuidarmos de nós, nos respeitarmos, nos amarmos. Temos de compreender a nossa parcela de responsabilidade diante de todos.
Sendo paz , vivendo a semear tranqüilidade - apesar do tumulto reinante - estaremos a deitar água para apagar um incêndio que já faz arder muitos locais e tantos corações. Talvez seja a hora de acção - mas para ela se dar, talvez seja preciso, mesmo, muita meditação. Para que a voz do nosso espírito, aquele voz interior que todos temos, nos aquiete e nos indique o caminho que parece não ser o que a maioria está escolher.
Para que tenhamos tempo para amar, para sentir, para realmente trabalhar de maneira consciente, sendo quem somos de verdade e dando aquilo que temos para oferecer aos outros, com sinceridade. Talvez façamos menos, mas com qualidade.
E sobretudo, que o silêncio também tenha espaço nas nossas vidas, para que a Sabedoria da nossa própria essência nos possa comunicar de que forma precisamos de andar. É importante ouvir o silêncio, parar para ver um arco-iris, admirar o céu, ouvir a Natureza no canto dos pássaros, na chuva que cai, na trovão que ecoa...
O Tempo é eterno e supremo, não queiramos também dominá-lo. Há tempo para tudo, há que aproveitar da forma mais natural tudo o que a Vida tem para nos oferecer sem nos rodearmos de "ruído" e "lixo", de objectos inúteis, de tarefas supérfulas e fúteis que repetimos sem nexo e sem fim. Todos nós vivemos rodeados de mensagens icónicas e verbais, extremamente apelativas, que nos levam a desejar inúmeras coisas. Contudo, a maior parte das vezes, caímos na tentação e passamos ao acto de compra.
Os miúdos são os mais influenciáveis. Querem o último grito em telemóveis, consolas de jogos, ténis iguais aos deste ou daquele ídolo desportivo, roupas de marca… Os adultos, para além das roupas de marca, têm voos mais altos e desejam as casas de sonho que vêem nas revistas, os carros super caros que a televisão impinge a todo o instante, deslumbram-se com as viagens a locais paradisíacos que as agências de viagem promovem. E, segundo a publicidade, tudo é facílimo! Basta um pequeno passe de mágica, no banco mais próximo de casa: tudo se consegue com um empréstimo bancário! É mesmo surreal contrair-se um empréstimo para ir fazer uma viagem, nas férias do próximo ano, quando se desconhece, se se chega a essas férias. Afinal, o futuro a Deus pertence e não se sabe se a nossa vida termina no minuto seguinte ao pedido de empréstimo, ou pagamento da primeira prestação desse empréstimo.
Vivemos a desejar sempre mais. Esse mais, de uma forma geral, são coisas fúteis, porque queremos ser melhores do que o vizinho. Nessa pressa de ser mais ou melhor do que o outro, esquecemos, contudo, de valorizar e gozar aquilo que temos ali à mão e que não custa nada. Esquecemo-nos de viver! Assim, para que a criança tenha tudo o que pede, limitando-se a exigir sem fazer qualquer esforço para conseguir o que quer que seja, e desconhecendo, ou fingindo desconhecer, as dificuldades que se vivem em casa, os pais endividam-se, trabalham imenso, cortam muitas vezes na alimentação, que devia ser uma prioridade em prol da saúde física e mental, em detrimento de uma boa convivência familiar, essa sim muito importante. Depois, queixam-se estes pais que dão tudo aos filhos e não entendem como eles se desviaram do bom caminho! Confessam também, muitas vezes, que passam os dias todos longe dos filhos a trabalhar, não têm tempo para estar com eles e essas prendas são uma forma de aproximação. Quanto engano! Os garotos gozam o brinquedo um ou dois dias e põem-no de lado, exigindo outro de imediato.
A explicação para tudo isto é simples, tão simples que até dói: actualmente vive-se para o TER, em detrimento do SER!
Assim sendo, as pessoas vivem numa correria enorme, sempre contra o tempo, tentando comprar tudo e dar tudo aos seus, mas, nestas corridas, esquecem-se de parar, conversar, escutar os silêncios, interpretar os olhares, estender a mão, dar um beijo ou, simplesmente, dizer que se amam. Isso sim, é que é importante. Estas atitudes é que criam e fortalecem os laços entre as pessoas.
Quanto aos pais precisam de aprender a dizer “Não” porque isso é educar, é ensinar a crescer. Ter muito não significa ser feliz. Ser é que é uma enorme felicidade, porque se tem o coração cheio de valores para oferecer aos outros. E isto não custa dinheiro algum, não se compra nas lojas. Está ali à mão, juntinho a nós como um abraço.
Afinal, temos tanta coisa ali à mão que não gozamos, que não valorizamos porque vivemos no sofrimento permanente que nos falta muita coisa para sermos felizes realmente!
Existem inúmeras vezes que, em vez da compra de um objecto para oferecer aos nossos filhos, para os fazer felizes, bastaria acariciar-lhes os cabelos para despentear os pesadelos e encaracolar os sonhos que comandam a vida.
Que a gente tenha tempo, também, para sonhar!
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