Será que passamos as nossas vidas atrás da barreira de um
portão fechado, para nos protegermos da dor e sofrimento que possam, eventualmente chegar até
nós ?
Se deixarmos que o nosso coração se abra, será que vamos ver
as coisas sob uma luz diferente ?
Iremos crescer para além das barreiras do nosso coração e
seremos capazes de experimentar uma maior riqueza de vida ?
Estas questões surgiram-me há já algum tempo, em certos momentos
em que me defrontava ao mesmo tempo, com sentimentos de tristeza, e por outro
lado de admiração. Tristeza, por mim e por outras pessoas, porque tenho a
impressão que muitos de nós vamos passando pela vida com partes do nosso coração
fechadas, para nos protegermos da dor e sofrimento. E admiração porque estava a começar a
aprender como me sentia tão bem ao abrir o meu coração a tudo à minha volta, a
outras pessoas, a acontecimentos, à natureza, ao design dos edifícios,aos animais, tudo!
A capacidade de abrir o coração foi um processo que tem
vindo a acontecer com o tempo. Comecei
por ter uma mente muito aberta para tudo o que era diferente e novo para
mim. Comecei a perceber que precisava
de momentos em que a mente racional ficasse mais para trás e me deixasse sentir
a minha essência, no fundo a essência de todos nós humanos. A mente racional, aquela que no fundo é formatada
pelas nossas vivências em sociedade, pela escola, pela família, pelos amigos,
pelos media, pelo cinema… acaba por nos impedir de ver(sentir) mais além. Quando conseguimos perceber que somos muito
mais do que seres racionais, começamos a notar as subtilezas de tudo à nossa
volta. As coincidências, certos padrões
de acontecimentos, deixando de lado preconceitos, ideias pré-concebidas ou dogmas, começamos a aperceber-nos que há
de facto um poder, uma ordem, uma energia, Deus, o Universo… o que lhe queiram
chamar, e que é algo de muito superior. Que
está por detrás de tudo. Está EM tudo!
Gostei deste conceito (lá está a mente racional a mandar…”conceito”…),
ok, gostei desta descoberta, gostei do que senti, é muiiiiiito
calmante para a alma. Fui relaxando e
olhando para as outras pessoas à minha volta cada vez com menos medo, mais amor
e mais tolerância. Nesta aprendizagem, o
meu coração segue a minha mente solta e continua… e acabam por ser as pequenas
coisas que trazem alegria e a abertura no meu coração. Por exemplo, quando no supermercado reparo num
sorriso de uma mãe para o seu filhote, quando passo por um sem-abrigo cujos
olhos se iluminam só porque eu lhe sorri…, quando uma flor delicada acaba de
abrir, quando vejo um arco-iris, numa letra de uma canção que está a passar no rádio do carro, no som da chuva... Quanto
mais abro o meu coração para tudo à minha volta, tanto mais sinto alegria e
admiração e ainda mais se abre o coração.
Parece que é uma espiral sempre presente, muito pacífica e ascendente.
Desta forma sinto que vivo mais cada momento, sou muito mais
aberta, vivo mais pelo coração, sinto o poder do “agora”.
Hoje em dia, viver com abertura de coração, significa que
estou mais disponível para tudo o que a vida tiver para me oferecer no que diz
respeito a sentimentos. Significa poder
estar aberta a experimentar sentimentos opostos, alegria, tristeza, esperança desespero, coragem, medo. É uma abertura para sentir que os meus
sentimentos me levam a viver uma vida mais preenchida e muito mais rica, de uma
forma que é impossível de descrever.
O meu coração não está sempre aberto e às vezes é difícil e
tenho que lutar. Especialmente neste agora,
com tudo o que estamos a viver, com esta terrível crise que nos assola a todos
e da qual não sabemos quando e como iremos sair. Às vezes parece que vivemos às prestações! Eu
luto todos os dias, cá dentro, para não fechar o coração, para não me tornar um
autómato para trabalhar, comer e dormir e trabalhar, comer e dormir, porque a
vida é muito, muito mais. Há vida para
além da crise, nas pequenas coisas que não custam dinheiro, que não pagam
imposto.
Há alturas em que é mesmo difícil, ao ponto de já nem me
apetecer pintar, nem sorrir, nem estar alegre, porque amanhã levaremos com
outro “balde de água fria” e é difícil
viver nesta “montanha-russa”. Tenho amigos e familiares completamente
devastados, sem vontade de uma anedota,
de uma conversa que não inclua a palavra “crise”, que estão a fechar o seu
coração como forma de não sofrerem. Não
acham piada a nada, já raramente sorriem… é muito difícil, mas temos de
conseguir. Temos de lutar e a PRIMEIRA
luta, essa é dentro de nós!
Manter o coração aberto e acreditar que é possível ser feliz,
no meio de toda esta confusão negativista e de quase apocalipse. Vamos abrir o coração à nossa volta,
distribuir sorrisos, amar a Chuva como amamos o Sol, abrir-nos à mãe Natureza que é perfeita,
dar-nos mais às pessoas que amamos, dizer-lhes isso mesmo, que as amamos e que
estamos ali para o que der e vier.
Realmente, não tenho o coração sempre aberto. Tenho vindo a
aprender com o tempo e é um lugar definitivamente muito pacífico e seguro onde
gosto de estar. Sinto-me abençoada e ao
mesmo tempo triste por não conseguir que todos à minha volta, todo o nosso povo de Portugal, consigam ter a
abertura de coração. Porque vamos precisar muito dela, porque precisamos todos neste momento de unir os nossos corações na mesma vibração para criar muita energia positiva. De coração fechado a vida vai passar-nos ao lado... de coração aberto iremos sofrer muito, mas iremos vibrar com as mais pequenas coisas a que temos de re-aprender a dar valor!
Um sorriso do tamanho do Mundo, e desculpem este desabafo tão extenso! Mas estava a precisar! Amanhã é outro dia e a Vida continua !
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